O Outro sou eu. O Outro não sou eu. O Outro... somos. Os Outros, os Outros... é. Fiquei me perguntando sobre como a gente olha, percebe aquilo que está fora. O Outro é o próximo, o segundo depois do primeiro. É como se fosse um espelho, no qual, às vezes, a gente se vê embaçado, às vezes se vê trincado. Às vezes esse espelho se mostra com uma nitidez assustadora. O Outro é onde eu me enxergo humano. A gente feito cheio de particulazinhas dos Outros. Precisamos do Outro pra sermos muitos; pra nos enxergarmos como uma coletividade. O Outro é com quem eu quero estar. Acho, também, que seja a chave de compreensão de mim mesmo. Dentro de nós. Os Outros fora de nós. O diferente. O Outro. Ele alterna, ele divide, ele propõe, ele joga, ele dá. O Outro interessa, o Outro completa. Outros, pra mim, significa cuidado. É uma ilusão de que a gente pode se separar uns dos outros. O Outro pra mim é super simples... E essa palavra bonita também, em espanhol, que é nosotros. Tem uma frase que é: nosotros no los conosco pero los quiero igual. Para que esse. Outro se reconfigure como um sujeito que é distante, que é próximo, ao mesmo tempo. Que é diferente e que é similar. Que é fundamental para que o eu possa se configurar. Chega um momento em que a gente pensa tanto, às vezes, no que é o Outro, que esquece de si mesmo. Micro Outros... Super Outros... No momento em que você abre mão do Outro, eu acho que você automaticamente se torna desumano. E Outro que colapsou o país. O Outro que me agrediu. Outra trava morta. Outra mãe que chora. The Other is the one outside of the demarcation line that the gatekeepers drove around the inner circle. And the Other needs to suffer the consequences of having lost the outside. As the inside swallows the outside it accepts no outsider. É um grande desafio, eu acho, a gente, justamente, aceitar num filho, uma filha, no meu caso, que ela seja Outra. Da solidez desse eu, da solidez dos limites que nos separam do Outro se torna uma questão de sobrevivência olhar para o que é invisível. Como é que a gente acessa essa outra voz? Como é que a gente acessa esse Outro? É construção identitária. É o eu alterado. É a vida em sociedade, é o bárbaro, o selvagem, o civilizado. Existir é sempre existir com o Outro, gestar, contemplar a existência do Outro. É difícil explicar o Outro a partir de palavras que a gente já sabe. Essa palavra tão gostosa. O Outro. Assim: a bochecha infla e parece que a gente está com a boca cheia de arroz e feijão.